Entrevista: a fruticultura na região do semiárido

Você está em Juazeiro há quanto
tempo?

Essione Souza
– Sou de Feira de Santana, mas moro em Juazeiro há 12
anos. Há quatro abri uma empresa de
pesquisa, só na parte de bioquímica,
para atender os produtores do Vale
do São Francisco. Na verdade, sou
uma consultora-pesquisadora. Todos
os dias, estou na área do produtor.
Não sou uma pesquisadora de sala,
de laboratório. Vejo a necessidade
do produtor e tento, dentro da bioquímica, descobrir o que podemos
fazer para melhorar. Por exemplo, por
meio do laboratório eu consigo identifi car se uma área de manga vai fl orar.
Com isso a gente consegue impedir
que o produtor tenha uma perda na
produção. Atingimos dos pequenos
até os grandes produtores. Praticamente atendemos todos os clientes dentro
do Vale do São Francisco.

Você tem concorrentes nessa área
por lá?

ES – Não. Já recebi três propostas de
multinacionais para me tornar sócia.
Não aceitei, porque acho que tem que
ser uma empresa local. Sou aquela coisa mais artesanal, não quero perder o
foco do pequeno produtor, não quero

perder a qualidade do serviço que é
prestado. Então, quando você aumenta
a quantidade, você vai ter que aumentar a qualidade também do seu serviço,
e eu não quero isso porque eu sei que
eu não vou conseguir dar conta. Eu que
faço os laudos, eu que emito tudo.

Sobre a manga, tem algumas variedades que são mais para o consumo
externo…
ES – Sim, o mercado externo de
manga atualmente é mais Palmer e
Tommy. Keity e Kent a gente envia,
mas envia muito pouco. A Palmer
é a que domina o nosso mercado.
Chega a aproximadamente 80% de
envio do mercado. O que fi ca dentro da nossa região? Geralmente o
que não se enquadra na tabela do
consumidor para a exportação.

Quanto aos citros?
ES – Só quem está entrando lá, até
o momento, é o limão Tahiti. O pessoal da ArgoFruta compra e já está
exportando essa variedade. Agora
a gente está estudando as variedades de laranja. Identificamos cinco
variedades já com potencial. Tem
uma que é do banco de germoplasma daqui.

Qual sua avaliação sobre a programação do workshop?
ES – O nível de informação é muito
alto. E essas informações devem ser
mais disseminadas, não podem ficar retidas numa sala. Acredito que
deva ter maior participação da comunidade. A população tem que
saber que é importante para o nosso crescimento de produção, porque, se ela não souber disso, não
adianta a gente produzir só para
exportar, porque vai chegar um tempo em que o mercado lá fora vai
ficar saturado e a gente vai perder
porque a gente não fez uma política de investimento aqui.


Fale sobre a questão da educação
alimentar.

ES – No café da manhã, quase
ninguém consome fruta. Geralmente é cuscuz com bode assado, com
galinha caipira, mas você não vê
uma fruta. Nossos produtores, que
produzem uva de qualidade, não
consomem a própria fruta, acredite. É uma educação alimentar que
a gente não tem. Se a gente não
começar a trabalhar essa educação
alimentar, vai ser um dos nossos
maiores problemas no futuro

Extraído de Informativo editado pelo Núcleo de Comunicação Organizacional (NCO) da Embrapa Mandioca e Fruticultura – Cruz das Almas (BA) Produção editorial Alessandra Vale (Mtb/RJ 21215), Léa Cunha (DRT/BA 1633), Marcela Nascimento (Conrerp/3a 2079), Caio Batista e Rodrigo de
 Azevedo (estagiários) 

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